O projeto PTDC/MAR/099642/2008 “Filogenia e quimiodiversidade de cianobactérias simbióticas em esponjas marinhas”, com a referência FCOMP-01-0124-FEDER-010568, financiado pelo Programa Operacional Factores de Competitividade - COMPETE e pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia tem como principal objetivo compreender o papel das cianobactérias em associação com esponjas.

Neste projeto será estudada a diversidade de cianobactérias simbióticas em esponjas e a sua relação com as espécies de hospedeiros, em águas temperadas do Atlântico Norte. Serão usadas várias abordagens, desde métodos tradicionais com identificação baseada na morfologia e estrutura microscópica até métodos moleculares com primers específicos para as cianobactérias e esponjas.

O estudo da potencial produção de toxinas (hepato e neurotóxicas) será realizado através do uso dos primers que detetam genes envolvidos na síntese de microcistinas, ciliondrospermopsinas e saxitoxinas. Primers já desenhados e primers degenerados serão usados e no caso de respostas positivas, recorrer-se-à a PCR e métodos químicos para avaliar a produção de toxinas.

A avaliação da transmissão vertical das cianobactérias e a possibilidade de a associação com novas espécies poder ocorrer durante o desenvolvimento das esponjas serão estudados com larvas de esponjas. Utilizar-se-á imunolocalização para detectar e quantificar as cianobactérias, incubando-se larvas de esponjas livres de cianobactérias, com espécies de vida livre locais.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Cientistas de onze países recolhem amostras em vários pontos do globo e enviam para a Universidade : Investigadores estudam esponjas marinhas para fins farmacêutico



Cientistas de onze países recolhem amostras em vários pontos do globo e enviam para a Universidade : Investigadores estudam esponjas marinhas para fins farmacêuticos

23 Junho 2012 [Regional]
No CIBIO-Açores, Departamento de Biologia da Universidade dos Açores, teve lugar durante três dias (18 a 20 de Junho) a reunião do projecto europeu SPECIAL Sponge Enzymes and Cells for Innovative Applications. Este projecto, financiado no âmbito do 7º Programa Quadro na área da Biotecnologia visa a descoberta e desenvolvimento de tecnologias para a produção biotecnológica de metabolitos celulares (compostos activos) e biomateriais (colagénio, biosílica) a partir de esponjas marinhas.
O projecto conta com a participação de onze equipas de investigação de sete países. De Portugal participam o 3Bs da Universidade do Minho (liderado pelo Prof. Rui Reis) que coordena o projecto, e o CIBIO-Açores (Prof. Ana Costa, Doutora Joana Xavier e Mestre Francisco Pires) que está responsável por diversas tarefas no que diz respeito à amostragem e caracterização morfológica e genética das amostras recolhidas em diversas partes do mundo (Açores, Caraíbas, Mediterrâneo, Mar Vermelho, entre outros). Nesta fase, as amostras chegam à Universidade dos Açores, até como diz a investigadora Joana Xavier, “por uma questão de optimização dos custos. Temos equipas do consórcio que trabalham nestes diferentes locais, que recolhem amostras para a Universidade dos Açores fazer a sua caracterização”.

Desenvolver tecnologias

Joana Xavier explica ao Correio dos Açores que o principal objectivo deste projecto é desenvolver tecnologias e estudar metabolitos e biomateriais produzidos pelas esponjas para serem utilizados em aplicações inovadoras na área da biotecnologia. Estes metabolitos poderão ter inúmeras aplicações ao nível da indústria farmacêutica, com o desenvolvimento de compostos com actividade anti-inflamatória, antibiótica ou no tratamento de doenças como o cancro. Já os biomateriais (colagénio e biosílica) apresentam um grande potencial ao nível da cosmética, medicina regenerativa e nanotecnologias como por exemplo no desenvolvimento de materiais que promovam a regeneração de ossos, cartilagem, vasos sanguíneos, entre outros.
A investigadora refere que as esponjas já estão na vanguarda dos trabalhos em biotecnologia marinha há muitos anos, e por isso já não é novidade que elas apresentam um grande potencial biotecnológico. Dos mais de 10.000 produtos naturais marinhos encontrados nos últimos 20 anos, cerca de 50% são produzidos pelas esponjas e/ou microorganismos a elas associados.
Por outro lado, Joana Xavier destaca o interesse do projecto porque é feito de maneira a assegurar o desenvolvimento e exploração sustentável destes biomateriais e metabolitos. Ou seja, vinca a investigadora, a par da descoberta e desenvolvimento do potencial destes metabolitos e biomateriais está também uma fase de produção sustentável dos mesmos através, por exemplo de maricultura e biossíntese laboratorial.
Desta forma, alguns parceiros do consórcio estão a desenvolver e a optimizar metodologias no que se refere à maricultura de algumas esponjas (espécies-alvo) de forma a produzir biomassa suficiente, isto é, quantidade de esponjas para serem usadas no resto do projecto, enquanto outros parceiros reproduzem alguns destes processos in vitro (laboratório). Se se recolher uma espécie em que se encontre um composto que apresente por exemplo grande actividade numa linha celular de cancro do pulmão tentar-se-á, ao mesmo tempo, reproduzir este composto em laboratório, para que não tenhamos de estar sempre a recorrer ao organismo vivo (esponja) para assegurar a existência deste composto. Isto é, uma vez avaliado o potencial e caracterizado o composto a ideia é que ele seja biossintetizado em laboratório, para que se consiga assegurar quantidade suficiente do mesmo.
No âmbito desta reunião e projecto encontra-se em São Miguel um ROV, veículo de operação remota, adquirido por um dos parceiros do consórcio, que aqui fará os seus primeiros testes de mar. Este equipamento, construído por uma empresa Canadiana, permitirá realizar estudos ao nível da ecologia e distribuição de esponjas marinhas até profundidades de 300 m, bem como realizar amostragens nas diversas áreas de estudo do projecto (anteriormente mencionadas).
Neste momento estamos a aguardar a chegada de um novo cabo de fibra óptica para podermos operar o ROV porque o que tínhamos sofreu uma avaria, remata Joana Xavier.
Autor: Nélia Câmara 

2012-06-29 por Marcos Sousa Lima Carreiro (marcos) em Correio dos Açores